Uma coletânea com 63 poemas autorais que tratam sobre o próprio ato de escrever.
Ano 2017 72p. Editora Literacidade
InVerso e Acorde é um projeto primeiro, pouco pensado, que acabou acontecendo para uma moça simples do interior de Minas. Mas que feliz estou por saber que a essência da poesia que derramo está explícita no que escrevo. Eu amo a palavras! Tenho fascínio pela poesia. Já me disseram sobre ser menos só eu nos poemas, e compreendo perfeitamente. Por muito e muito tempo, tempo em que nasceram quase todos os poemas de InVerso e Acorde, escrevi só para mim, de fato. Estou engatinhando. Mas minha poesia, de letras e de partilhas humanas, ganha nova rega.
Que a poesia da vida prevaleça!
Forte abraço e demorado
Críticas
PREFÁCIO
Fui convidado a prefaciar esta obra de minha querida Herena e nem sei expressar a felicidade que esse convite me causou. De início, preciso registrar todo meu apreço, consideração e amor que tenho por essa pessoa maravilhosa, que é um todo em carinhos, um primor de educação, dona de uma arte singular e detentora de virtudes que não se pode cotejar.
Sendo minha prima, vi-a pela primeira vez quando ela estava com dois meses de idade e só fui revê-la quando já estava com quase cinco anos, em minha primeira visita a Itinga, cidade que me conquistou logo à primeira vista e que tem uma relação muito peculiar e importante com minha vida. Pois bem, ao ter um contato mais chegado com Herena, pude perceber que ela seria uma menina diferente e que teria à sua frente um caminho permeado por artes e recheado de cultura, mesmo vivendo numa cidade razoavelmente precária em estímulos culturais. Mas, o coração do Vale do Jequitinhonha é grande o bastante para proporcionar combustível artístico para quem dele precisa, e Herena se abasteceu de tudo o que tinha direito e, aliado a um dom nato de reconhecer beleza e retratá-la com magia, essa menina cresceu e se transformou num sem-fim de adjetivos.
Ela sempre destaca, com amor, que teve grande influência minha o seu despertar para as letras, pois sempre me observava com um livro e ficava encantada ao ver o tanto que eu lia. Com curiosidade, queria sempre saber dos enredos que eu estava experimentando no momento e sentava-se ao meu lado, tão somente para me fazer companhia física.
Em nossos passeios pelas praias do Rio Jequitinhonha e pelas ruas da cidade de Itinga, sempre me indagava o porquê de algumas coisas e estava sempre interessada em saber das coisas mundanas, já ávida por conhecimentos. Responder a esses questionamentos e partilhar de minhas experiências com ela sempre foi um prazer inenarrável e me fazia sentir o mais importante dos primos!
O tempo passou célere e a menina do rio cresceu, desabrochou, virou mulher, mãe e tem mostrado todo seu talento há vários anos, com composições musicais, escritos originais e muitos dons artísticos, além dos culinários e maternos.
Tenho acompanhado seu desenvolvimento em todas as fases e, a cada dia, mais me surpreendo com seu talento para expressar o que acontece em seu íntimo e o que passa por sua cabeça, tão pródiga em ideias.
Ela agora vem com este “In Verso e Acorde” e traz, com uma competência contumaz, uma coletânea de fazer inveja aos mais nobres nomes de nossa literatura. Ao ler esses poemas, tive a impressão de estar admirando um Fernando Pessoa moderno, bem como uma Cecília Meireles vivendo em pleno século XXI.
Herena nos brinda com uma obra madura, telúrica por algumas vezes, e plena em lucidez e equilíbrio. O mundo hodierno, a existência humana em pleno encanto e desencanto, uma convicção poética filtrada em uma sensibilidade instantânea, numa dicção pessoal e que surpreende pela magia das palavras e pelo toque sedutor, tudo é expresso em seus textos. Com escritos arrebatadores, num estilo único, sem fragmentações, revelando um convívio quase absoluto com a natureza e com o ser vivente, ela transforma as palavras em uma temática inusitada, demonstrando uma perfeição e toda sua legitimidade, rumando à sua maturidade e denotando sua fortuna poética para a posteridade.
Quando ela diz que “seu templo é poesia”, ela nos leva a um nível de experiência universal, em que os emblemas cotidianos são vicejantes e pulsantes. Assim como quando ela diz sobre a “cultura” de sua terra, que se torna canção pela partilha e se torna nosso lar, o que expressa seu lirismo e sua verve cultural. E ainda nos encanta com “a menina e o rio”, expondo um pouco de seu rincão e nos remetendo à sua infância, consagrando seu estilo conciso e raro. Ah, e quando ela fala “do português que só se entende com” ficamos atentos e percebemos o crescimento intelectual e maduro dessa poetisa nata e que evoca a saudade, a novidade e constrói um universo particular, elegante e pacientemente trabalhado.
Por tudo isso, tenho incomensurável orgulho em apresentar esta relíquia, que resgata nossa poesia de modo sublime e terno, consagrando nossa Herena ao patamar dos “grandes” mestres da poesia.
Thonnynho Barcellos Oliveira-MG, outono 2016
“Poeta, não somente o que escreve, é aquele que sente a poesia, se extasia sensível ao achado de uma rima, à autenticidade de um verso.” Cora Coralina
A opinião de quem leu
HERENA,
o muito amigo e notável Toninho Barcelos, seu primo, sabendo-se poeta, crítico literário e com uma vivência de 60 anos com as linguagens poéticas, gentilmente me ofertou exemplar do seu livro "In Verso e Acorde".
Você explode emoção, subjetividade, cantaria típica do povo do Jequitinhonha, comoção pela descoberta nas vísceras das palavras onde sobejam significados múltiplos que constituem a anima da poesia.
Aliás, o que você é: poesia. Poemas como "Cultura", "Meu templo é a poesia", "Foz", "Pros mundos de seu som", "Desigualdade", "Instrumento", "Sempre", "A menina e o rio", "Uníssono", entre outros, autorizam a você possuir uma dicção própria e a promover arrebatamento com a palavra.
Sua sensibilidade vibra jeu des mots em "Uníssono"; diz de dentro quando escreve "a gente vai caçando liga - uma rima qualquer - que a memória puxa". Ou quando assinala que "só o poema me cala" - preciosa conclusão de quem tem a poesia como/vida, reforçada pela verdade poética de que "todo silêncio me custa um poema", numa bela e profunda metáfora. É perfeita sua declaração em "Humano": "Só o poema não me reprime. - Quem diria - sendo a poesia tão sublime - é de mim o mais profano." Quadra digna de uma Adélia Prado. Ou quando você é o próprio processo lúdico da linguagem, como em "Completeza": "E quando, assim pequenina - gostar de você é tão grande - você se faz tão poesia. - Não é só porque me inspira - mas porque me derrama."
O mesmo a dizer de "Poema mudo" - e diz! Porque, você arrebata, o poema é "sentimento indescritível". E completa sua convicção ideológico-poética quando confessa: "porque preciso da estética - bem pouco sei da beleza. - Tenho um poema urgente - que não consigo escrever." Com a metalinguagem ou em estado puro, seu livro tem essa iluminação. Ele é bom de ler como plantar raízes nas palavras. E as suas dão bons frutos.
Abraço - Márcio Almeida
Poemas
Poema musicado por Ivone Cerqueira